BORGES, Maria Zélia. Vocabulário da moda no português do Brasil: abril/90 a janeiro/91. Tese de doutorado, FFLCH, USP, São Paulo, 1994.

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Resumo:

O léxico é constituinte da língua, mas o vocabulário, recorte do léxico, pertence à fala. Assim sendo, sua escolha e maneiras de usar ficam sujeitas à vontade do falante, o que lhe confere um grau de liberdade característico do discurso. Os dicionários, em suas diversas modalidades, os vocabulários e os glossários buscam registrar léxicos ou vocabulários diversos. É o registro em dicionário a forma de sanção que afasta qualquer censura oficial a um termo de formação vernácula, ou importado de língua estrangeira, outorgando-lhe o estatuto de elemento de língua e não mais apenas de fala. O presente trabalho objetivou levantar e organizar um vocabulário da Moda, coligido em revistas especializadas e em lojas da cidade de São Paulo, bem como verificar a influência de línguas estrangeiras nesse mesmo vocabulário. Para isso, passa em revista diversos tipos de dicionários e glossários, tendo em vista a consecução do primeiro propósito do estudo. Em seguida, analisa o peso dos estrangeirismos, empréstimos, vocábulos advindos de evolução lingüística e de formações vernáculas, através de tabelas de freqüência. Para evitar os incovenientes de freqüências absolutas em textos, analisa também tal peso através das palavras-tema, palavras-chave e palavras de caracterização. Os resultados da análise permitem afirmar que tanto os estrangeirismos quanto empréstimos, considerados separadamente, não têm uma freqüência estatisticamente significante. Em conjunto, atingem um percentual bem pouco acima do mínimo considerado significante, ficando o peso estatisticamente significante para os vocábulos resultantes da evolução lingüística e de formações vernáculas. Considerando os vocábulos distribuídos por classes estabelecidas para o corpus, estrangeirismos e empréstimos predominam apenas nos nomes de tecidos e de vestimentas. Numa análise particular, estrangeirismos e empréstimos advindos do francês e do inglês refletem bem a história da moda, assinalando a mudança de hegemonia de seus pólos de criação e difusão. O presente estudo permite, ainda, uma conclusão que aponta para a necessidade de intensificação de estudos que levem à organização de obras lexicográficas mais condizentes com o desenvolvimento das técnicas de registro e análise de vocabulários. Pode-se também afirmar que a organização de um vocabulário ou de um dicionário não é tarefa conclusiva; ao contrário, exige uma revisão e atualização constantes que permitam retratar o dinamismo da língua no espaço e no tempo e o dinamismo de um sistema mutável como a moda.